Em 14/11/2020
Segundo a Aeronáutica, uma comissão será designada para apurar as causas da ocorrência.
Um foguete de treinamento sofreu um incêndio nesta sexta-feira (13Novembro2020) logo após ter seu lançamento interrompido na Base de Alcântara, no Maranhão. Segundo a Aeronáutica, o fogo foi controlado de imediato, evitando riscos aos profissionais envolvidos.
“Todos os procedimentos de segurança foram adotados e não houve riscos a nenhum dos profissionais envolvidos. Após a interrupção do lançamento, houve um pequeno incêndio, que foi prontamente controlado pelo pelotão contra incêndio. Uma comissão será designada para apurar as causas da ocorrência”, informou, por meio de nota, a Aeronáutica.
O Foguete de Treinamento Intermediário (FTI) faz parte da Operação Águia, iniciada no dia 9 de novembro, tendo por objetivo treinar equipes e testar equipamentos no Centro de Lançamento de Alcântara.
Centro de Lançamento
O Centro de Lançamento de Alcântara é a denominação da segunda base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira. Sedia os testes do Veículo Lançador de Satélites e destina-se, futuramente, a realizar missões de lançamento de satélites.
O Brasil lançou com sucesso o seu primeiro foguete ao espaço em 23 de outubro de 2004, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara; foi um VSB-30 lançado em uma missão suborbital. Este lançamento foi seguido por vários outros bem sucedidos.
A base de lançamentos de Alcântara tem características únicas como a localização privilegiada e a proximidade do mar, o que possibilita lançamentos em órbitas polares e equatoriais. Além disso, está em região de baixa densidade demográfica, baixo tráfego aéreo e ausência de terremotos e furacões.
A posição geográfica do Centro de Lançamento de Alcântara faz dele uma das bases mais estrategicamente privilegiadas do mundo. Um satélite que é lançado da base brasileira, onde a rotação da Terra é de 1.668 km/h, tem um impulso maior do que teria se saísse de São Paulo, que gira a uma velocidade de 1.535 km/h.
Proposta de lançamento
No ano em que a Nasa concretizou a iniciativa de sua primeira missão espacial tripulada em nove anos, o Brasil deu o primeiro passo para transformar o Centro Espacial de Alcântara (CEA), no Maranhão, em um polo de lançamento de veículos espaciais.
Após começar a receber propostas de empresas interessadas em lançamentos orbitais e suborbitais, a Agência Espacial Brasil (AEB) anunciou que já conta com “uma dezena de potenciais candidatas a operar em Alcântara” e já prevê decolagens a partir de 2021.
Alcântara é uma base de lançamento de foguetes da Força Aérea Brasileira, que firmou um acordo no começo de maio para que a AEB negocie com empresas que queiram disparar seus foguetes de lá.
A localização do CEA tem características que a privilegiam: Fica a 2º18′ a sul do equador, está próxima do mar, o que permite lançamentos em órbitas polares e equatoriais, tem baixa densidade demográfica e de tráfego aéreo e não há terremotos e furacões.
Para se ter ideia de como alguns desses fatores são cruciais, o mau tempo no Cabo Canaveral, na Flórida, já obrigou a Nasa a adiar missões de levar astronautas norte-americanos ao espaço a partir de solo dos EUA. O Brasil quer fazer de Alcântara a “janela de acesso ao espaço no Hemisfério Sul“.
“O entendimento de que os principais centros de lançamento estão no hemisfério Norte. O Brasil tem um vizinho, bastante competitivo, que é o Espaçoporto de Kourou, na Guiana Francesa, a cinco graus de latitude Norte. No hemisfério Sul não temos nada parecido, e a Localização de Alcântara comparada a outras é uma das melhores ou a melhor posição geográfica”. AEB
O acordo entre FAB e AEB foi o último capítulo na preparação para o Brasil fazer seu projeto espacial decolar. Antes disso, o Senado aprovou em novembro de 2019 um Acordo de Salvaguardas Tecnológicas para uso da base espacial de Alcântara, o que permite o uso comercial do local.
Isso abriu caminho para o Brasil explorar um mercado espacial que movimenta cerca de US$ 350 bilhões (R$ 1,5 trilhão) ao ano. A AEB espera que este bolo cresça e atinja US$ 1 trilhão (R$ 4,4 trilhões) em 2040. A partir deste ano, o Brasil espera, em um cenário conservador, fisgar ao menos 1% desse negócio, algo como US$ 10 bilhões (R$ 44 bilhões).
Antes de os dois acordos serem firmados, o Brasil já era abordado por companhias. Com o chamamento público desta semana, as propostas começaram a ganhar corpo, diz a AEB.
“Existem no mundo hoje, entre pequenas e grandes com foco de atuação em pequenos lançadores, cerca de 100 empresas. No momento há uma dezena de potenciais candidatas a operar em Alcântara“, afirma a agência.
Como pode ser o uso
A ideia é que os primeiros lançamentos ocorram na área do CEA que já tem infraestrutura e que não precisa de obras para adaptação. Atualmente, a base está preparada para lançar pequenos satélites, com até 200 quilos, para órbitas baixas a médias – a cerca de 600 km de altitude.
O centro já conta com radares, aparelhos de meteorologia e outras tecnologias para este tipo de missão. A AEB aposta que lançamentos com estas configurações aconteçam a partir de 2021.
Outra possibilidade viável, e que já foi estudada em 2019, é o lançamento a partir de plataformas aéreas. Ou seja, aviões carregando foguetes. Estas decolagens receberiam suporte do aeroporto de Alcântara.
A ideia é primeiro fazer de Alcântara um centro sólido para pequenos lançadores antes de permitir foguetes maiores. Este tipo de operação requer ajustes na infraestrutura, mas, segundo a AEB, há espaço físico para isto.
Quilombola na região
Apesar do otimismo da AEB em relação a Alcântara, há questões em aberto e críticas ao projeto. Um ponto ainda sem solução é o litígio com os moradores da maior área quilombola de Alcântara, que está com processo de titulação parado há 11 anos.
A comunidade local é contra a ideia de expansão do centro espacial porque isso pode resultar na retirada de moradores do local. Para a AEB, não há previsão de ampliação porque a área utilizada pelo CEA já permite o lançamento de pequenos satélites.
Em abril do ano passado, quilombolas apresentaram à OIT (Organização Internacional do Trabalho) uma queixa formal contra o Estado brasileiro por violações diante dos planos de expansão da base.
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