Em 29/05/2024
Um dos grandes nomes da MPB diz que não se encaixa nos modernos escaninhos de gênero e fala de sexo, drogas e da passagem do tempo, que não o assusta.
O cantor, compositor, dançarino, ator e diretor brasileiro Ney de Souza Pereira, mais conhecido como Ney Matogrosso, de 82 anos, abriu o jogo sobre a vida sexual e ainda relembrou o relacionamento que teve com Cazuza, em entrevista a Revista Veja.
Dono de uma trajetória que se mescla à história da MPB, Ney Matogrosso vem soltando a potente voz, capaz de alcançar um agudo raro e fazer reverberar ideias reveladoras de uma mente sem travas, em mais de cinquenta anos de palco.
Desde que surgiu na cena musical, ele, que viria a integrar o transgressor Secos & Molhados na década de 1970, vive de cutucar temas tabus – algo que agora, aos 82 anos, pratica com renovado vigor.
Idade, para ele, nascido em Mato Grosso do Sul, é conceito abstrato, tanto que anda às voltas com uma agenda lotada de shows – um deles, em São Paulo, promete ser o mais grandioso de sua carreira.
Ney acompanha ainda os últimos retoques de Homem com H, filme sob a direção de Esmir Filho que percorre seus altos e baixos. “Tive todas as experiências possíveis com as drogas e realizei minha sexualidade plenamente”, diz o artista na entrevista que concedeu a revista VEJA em sua cobertura no Leblon, na Zona Sul carioca, onde as paredes são tomadas de coloridas telas abstratas que entregam o humor do proprietário.
Mesmo aos 82 anos, o cantor explicou que a vida sexual segue “essencial“: “Sempre teve e segue assim. Lá pelos 30, 40 anos, cheguei a ficar viciado em sexo. Tinha que transar todo dia para conseguir dormir. Hoje, vivo um relacionamento com uma pessoa de fora do Rio e consigo me guardar para ela“.
O artista ainda relembrou o namoro e término com Cazuza.
Alguns de seus relacionamentos serão abordados no longa, inclusive com Cazuza. Ele foi o grande amor de sua vida?
Um dos meus grandes amores, sim, mas não o único, graças a Deus. Fui completamente apaixonado, mas era difícil conviver com os dois Cazuzas que havia nele. No lado público, se mostrava agressivo, louco, bêbado e cheirava muito pó. Já na intimidade, era o oposto. Foi uma das pessoas mais encantadoras que conheci.
A relação durou três intensos meses. Uma vez, ele sumiu por quatro dias e apareceu na minha casa sujo, fedendo, com um traficante a tiracolo. Discutimos, e Cazuza cuspiu em mim. Aí dei um tapa na cara dele e o mandei ir embora. Seguimos amigos, nos amando, mas sem sexo.
O senhor já declarou ter usado muitas drogas. Chegou a se viciar?
Nunca fui viciado em nada, embora tenha vivido todas as experiências possíveis nos anos 1970, 1980. Tomei ácidos, usei maconha e pó. Minha dependência hoje é de um remédio para dormir, o Frontal. Comecei por causa da insônia, há vinte anos, e estou tentando me livrar com a ajuda do CBD e do THC (princípios ativos da Cannabis). De vez em quando, tomo uma colher de chá do santo-daime, que me ajuda a ter clareza em determinados momentos.
Nascido em cidade pequena e filho de militar, sofreu preconceito ao se assumir gay?
Houve questões em casa desde cedo. Embora eu me enxergasse como uma criança comum, que gostava de pintar, desenhar e cantar, meu pai me chamava de viado. Um dia, perto de eu deixar o Mato Grosso do Sul, aos 17 anos, falou isso de novo e respondi: “Eu não sou, não, mas o dia em que for, o Brasil inteiro vai saber”. A praga pegou. Na adolescência, sentia atração por homens, sem ir adiante. Até ali só havia tido relação com mulheres. Aos 20, época em que trabalhava em um laboratório em Brasília, experimentei a primeira relação homossexual.
Quais loucuras cometeu em seus anos mais transgressores?
Realizei a minha sexualidade plenamente. Cheguei a transar com quinze pessoas ao mesmo tempo. Virava uma confusão, uma enorme brincadeira. Houve ainda uma época em que olhava para a plateia e desenvolvia uma relação quase sexual com ela. Tinha vontade de transar com toda aquela gente. Claro que isso não se concretizava. Fora dali, eu era fácil, fácil. Se alguém se aproximasse com vontade e eu me sentisse atraído, não perguntava nem o nome.
Afinal, é homem com H?
Sim. Sou honesto, íntegro e defensor do que é verdadeiro. Isso é ser homem com H.
Foi vítima de fake news?
Sim, e muito antes dessa febre na internet. Espalharam que minha voz era fina porque tinha sido castrado em um acidente de carro. Isso virou verdade absoluta.
Deixe um comentário